segunda-feira, setembro 25, 2006

Desconexo

Enquanto eles se odiavam, a cama fria esquentava com tanta angústia, a dor e a palpitação do encontro era fugaz e eles se evitavam, se corroiam enfrentavam seus próprios pesadelos e criavam eles também, era impossível conviver com tanta incoerência e dor. O cheiro, as lembranças, tudo, tudo oq os cercava ainda estava lá, com exceção dos móveis e dos amores perdidos, tudo era igual, e lembrava a mesma dor.

Talvez a perda fosse menor se estivessem mais próximos ou mais distântes do que estavam, tudo era incoerente, o centro havia se perdido, ambos voltaram a ser crianças assustadas e perdidas meio à uma multidão invisível e não se tocavam, não se falavam, nem buscavam entender apenas queriam que passasse, e que o passado fosse embora, sumisse, quem sabe esqueçer. Nada era tão fácil, eles se evitavam tanto ao ponto de não esquecerem um ao outro, ao menos ele não esquecia. O terceiro ser há muito estava perturbando a mente de ambos, e ambos o querem (queriam) de volta.

Como sempre, ele ali, sentado ao canto, tentando pensar. Um cigarro numa mão um copo na outra, entorpecer-se era a saída mais facil, mais viável e mais possível no momento. Sempre foi assim, ainda mais agora, isso havia aumentado, e tomado uma forma gigantesca. Ele perdia-se em si mesmo e ela... simplesmente não se sabia. Sofria calada, por ele ou por outros ou outras, por sua vida vazia, sua nova vida vazia, e isso fazia dela um ser menor, cada vez mais, mas ainda palpitava a sensação de encontrá-la e aos poucos ele também entorpecia isso em sua mente.

Parada para o cigarro, e essa coisa branca que não sai da sua mente, que mente, engana entorpece e agora sente-se melhor, é temporário, mas a felicidade é assim. Talvez amanhã seja um último dia, talvez nunca mais talvez seja para sempre o nada ou talvez nada seja para sempre.

Jantar a três

Por mais que a gente quisesse esquecer o que havia passado, eram inúteis as tentativas de fuga, estávamos atados uns aos outros, de forma doentia e cruel. Éramos carne um para o outro, apoio e dependêcia. Já não se faziam drogas como antigamente, e ali sentado no chão, observava calma e atentamente aqueles braços branco-avermelhados, esticados, os elásticos. Sentia falta do calor, ao mesmo tempo desejando o frio intenso que toda aquela situação me trazia.

A mesa de vidro posta, era hora de refeição, ao lado uma caixa de empadas frias, uma garrafa de vodcka um suco ruim e uma coca-cola se faziam esquecer num canto da mesa, mas sim mesa estava posta. O vidro transparecia, via-se os pés através dele, e nele, todo aquele pó branco incandecente, indecentemente atraente, nos convidava para o jantar. Obviamente o prato principal éramos nós, pouco a pouco consumidos, sumindo em nós mesmos e nos nossos próprios desesperos, nos gritos sussurrados aos ouvidos mudos, esperando do mundo algo que nos arrancasse daquela fossa, e enquanto esperávamos, ardiamo-nos e espetavamo-nos.

- Onde está o rivotril?
- Não sei, você pode me dar o sinto e o isqueiro?
- Tá aí do seu lado, pega você.

E passos e portas se ouviam, mas não era ninguém, apenas nós mesmos, ou talvez sequer o barulho existisse, quem saberia? Estavamos muito além de qualquer vida, ou sentido de viver existente, o sexo ainda era bom, e nossa relação parasitária mútua era definitivamente suficiente para ambos e acomodamo-nos assim mesmo. Ao fim da noite, os tres deitavam na cama fritando, odiando tudo e todos inclusive nós mesmos, a depressão batia, a noite chegava ao fim às 11h da manhã, os choros silenciosos ao meu lado rasgavam-me em dois, e não sobrava espaço para o meu próprio sofrimento.

Mas uma coisa era nítida, estavamos em uma canoa furada, e a água batia no peito, era hora de alguma consequência, cedo ou tarde.

( Kléderson Bueno - e algumas lembranças encaixotadas )

sexta-feira, setembro 22, 2006

Para não esquecer de Caio

... e então ao abrir a geladeira, só pude notar aquele pote enorme cheio de morangos vistosos, grandes e bem bonitos de se observar, daqueles para se degustar lentamente, primeiro com os olhos e em seguida deliciar-se com o visual, depois saborear com a mente o gosto de cada um deles, um a um, lentamente.

O desejo de consumi-los inteira e intensamente, parte por parte, era grotesto, quase algo animalesco. Eu os imaginava eternamente dentro de mim, e a idéia soava pitoresca e assemelhava-se à um sonho. Em seguida veio aquele frio na barriga, o medo e ao mesmo tempo a intensa vontade de tê-los a todo custo. Só a idéia me trazia um êxtrase intenso, e consumi-los seria uma passagem só de ida à um nirvana superior, ou algo proximo à ele.

Cada segundo era uma badalada no meu coração que já não aguentava mais a espera, aqueles poucos segundos estavam parecendo se transformar em uma eternidade, que mas tarde viria por se provar verdadeira. Enfim fui chegando mais perto e mais perto, abaixei-me para ver e sentir melhor aquilo que tanto me afligia e me despertava tanto desejo.

A princípio era prazeroso, mas fui olhando mais de perto e com mais atenção, havia algo estranho. Primeiro era no visual, estavam estranhamente esverdeados, cobertos de uma crosta estranha e suja, e um parecia contagiar o outro de tal forma brutal que todos haviam sido maculados - dificil pensar qual deles teria começado tudo aquilo, ou se haviam começado ou se apenas sempre foram assim - com aquela podridão, e assim o que parecia maravilhoso tornou-se pouco a pouco intragável e foi virando lixo, e no lixo me observavam calma e friamente, como se ignorassem o que realmente eram e onde haviam ido parar. Então percebi que não me observavam e sim convidavam e éramos todos perdidos dentro de uma lata, meros morangos mofados.


(Kléderson Bueno - e algumas lembranças encaixotadas)

segunda-feira, setembro 11, 2006

Não tenho certeza, mas acho que ainda sou eu, e um pouco menos, um pouco mais, quem sabe, lutando com as incertezas do mundo, procurando meu mundo. Quem sou eu?

segunda-feira, setembro 04, 2006

poesias de orkut II

de forma extasiada
cada peça de mim
quanto mais assustada
foge rancorosa assim
mais a mais e cada dia
um pedaço, seco desvia
ao sentido verdadeiro de seguir
tão insano e inconsequente
veio por tornar-se dormente
por dores que já não mais sente
e pelas flores...
sim, demente!